
Quando era menino, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo fazendo feitiços.
As minhas primas também acreditavam nisso.
A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços perto da minha casa.
O seu nome era Rosa, mas nós só a chamávamos de bruxa.
Era muito feia, gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, e tinha uma enorme verruga no queixo. Ela estava sempre a falar sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando os seus feitiços numa grande panela velha.
A nossa maior diversão era chateá-la. Volta e meia invadíamos a sua cancela velha e entrávamos na sua horta para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no pequeno minimercado ali perto, corríamos atrás dela a gritar “bruxa, bruxa!”.
Um dia encontramos, no meio da rua, uma cabra morta. A quem pertencera esse animal nós não sabíamos, mas logo descobrimos o que fazer com ela: atirá-la para a casa da bruxa. O que seria fácil.
Ao contrário do que sempre acontecia, naquela manhã, e talvez por esquecimento, ela deixara aberta a janela da frente. Levantamos o bicho, que era grande e pesava bastante, e com muito esforço nós levamo-lo até à janela. Tentamos empurrá-lo para dentro, mas o bicho ficou preso na cortina.
-Vamos lá! -gritava a minha prima Leonor- antes que a bruxa apareça. E ela apareceu. No momento exato em que, finalmente, conseguíamos introduzir a cabra pela janela, a porta abriu-se e ali estava ela, a bruxa, segurando um cabo de vassoura. Rindo, saímos correndo. Eu, gordinho, era o último.
E então aconteceu. De repente, enfiei o pé num buraco e caí. De imediato senti uma dor terrível na perna e não tive dúvida: estava partida. Gemendo de dor, tentei levantar-me, mas não consegui. E a bruxa, caminhando com dificuldade, mas com o cabo de vassoura na mão, aproximava-se de mim. Naquela altura as minhas primas estavam longe, ninguém me poderia ajudar. E a mulher sem dúvida descarregaria em mim a sua raiva.
Nesse momento, ela estava junto a mim, transtornada de raiva. Mas aí viu a minha perna, e instantaneamente mudou. Agachou-se junto a mim e começou a examiná-la com uma habilidade surpreendente.
- Está partida! - disse por fim. - Mas podemos dar um jeito. Não te preocupes, sei fazer isso. Fui enfermeira muitos anos, trabalhei num hospital. Confia em mim.
Dividiu o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e com seu cinto de pano, improvisou uma tala, imobilizando-me a perna. A dor diminuiu muito e, amparado nela, fui até minha casa. "Chama uma ambulância!", disse a mulher à minha mãe. E sorriu.
Tudo ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico engessou a minha perna e em poucas semanas eu estava recuperado.
Desde então, deixei de acreditar em bruxas. E tornei-me grande amigo de uma senhora que morava perto da minha casa, uma senhora muito boa que se chamava Rosa.
FIM
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Quando era menino, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o tempo todo fazendo feitiços.
As minhas primas também acreditavam nisso.
A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa casinha caindo aos pedaços perto da minha casa.
O seu nome era Rosa, mas nós só a chamávamos de bruxa.
Era muito feia, gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era comprido, e tinha uma enorme verruga no queixo. Ela estava sempre a falar sozinha. Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós a encontraríamos preparando os seus feitiços numa grande panela velha.
A nossa maior diversão era chateá-la. Volta e meia invadíamos a sua cancela velha e entrávamos na sua horta para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer compras no pequeno minimercado ali perto, corríamos atrás dela a gritar “bruxa, bruxa!”.
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