Era uma tarde quente de abril quando eu me sentei no velho sofá de couro da sala de estar. Nas minhas mãos, o álbum de fotos pesava mais do que o habitual, carregado de memórias que pareciam quase irreais agora. As páginas amareladas guardavam lembranças de um tempo que vivíamos sob a sombra de um regime opressor, antes do 25 de abril de 1974.
Lembro-me vividamente dos dias de minha juventude, onde o medo era um companheiro constante. A censura controlava o que líamos, víamos e ouvíamos. A PIDE, a polícia política, estava sempre à espreita, pronta para calar qualquer voz dissidente. Os meus pais, pequenos comerciantes, tinham medo de expressar qualquer opinião que pudesse ser interpretada como subversiva.
— Manuel, não fales disso na rua! — a minha mãe costumava sussurrar para o meu pai, enquanto ele reclamava em voz baixa sobre a falta de liberdade.
— Eu sei, Maria, eu sei — ele respondia, com um suspiro cansado, os olhos refletindo a resignação de anos de opressão.
Na escola, éramos obrigados a aprender sobre a grandiosidade do regime. Tudo era glorificado e questionar era um risco que ninguém estava disposto a correr. Eu, com os meus 17 anos, ansiava por a liberdade, mas temia as consequências. Os boatos de prisões, torturas e desaparecimentos eram constantes, e isso mantenhamo-nos em silêncio.
Então, chegou o 25 de abril de 1974. Eu estava na praça central com alguns amigos, tentando vender os produtos da loja do meu pai, quando ouvimos os rumores de que algo grande estava acontecendo. Tanques e soldados começaram a aparecer nas ruas de Lisboa. Ao invés do medo habitual, havia uma esperança palpável no ar. As pessoas começaram a se aglomerar, sussurrando, murmurando sobre a revolução.
— Será que é verdade? Será que finalmente estamos livres? — perguntou João, o meu melhor amigo, os olhos arregalados de excitação.
— Não sei, João, mas algo está acontecendo. Precisamos ir ver! — respondi, já me dirigindo para a multidão que se formava.
Chegamos ao Largo do Carmo, onde uma multidão se reunia ao redor dos soldados. Foi ali que vi, pela primeira vez, os cravos vermelhos nos canos das espingardas. A imagem era poderosa, um símbolo de uma mudança que eu jamais imaginara ser possível. Os soldados sorriam, distribuindo cravos, e a multidão vibrava de alegria e emoção. O regime caía diante dos nossos olhos, não com tiros e violência, mas com flores e esperança.
— Viva a liberdade! — alguém gritou, e logo todos estavam aplaudindo, gritando, chorando.
Quarenta anos se passaram desde aquele dia, e aqui estou eu, sentado na minha poltrona, folheando as fotos daquela época. Vejo-me jovem, com olhos brilhantes de esperança e medo, ao lado do João, que também não conseguia conter as lágrimas de felicidade.
Hoje, Portugal que conhecemos é fruto dessa revolução. As ruas são cheias de vida, de vozes que podem expressar as suas opiniões livremente, sem medo de repressão. As artes floresceram, a imprensa é livre e a democracia, apesar dos seus desafios, é celebrada
— Avô, o que estás a olhar? — a minha neta Sofia perguntou, interrompendo os meus pensamentos. Ela aproximou-se , curiosa, espiando o álbum nas minhas mãos.
— Estou a recordar o 25 de abril, minha querida. Um dia que mudou tudo.
— Você estava lá? —os olhos arregalaram-se de interesse.
— Sim, estava. Vi a revolução acontecer diante dos meus olhos. Vi o povo a conquistar a liberdade.
Ela sentou-se ao meu lado, e eu comecei a contar-lhe as histórias daquele tempo. A Sofia ouvia atentamente, seus olhos brilhando com a mesma esperança que eu sentia naquele dia. E, ao contar-lhe essas histórias, percebi que a chama da liberdade, acesa naquele 25 de abril, continua viva nas novas gerações.
Enquanto olhava para o rosto jovem da minha neta, cheio de curiosidade e esperança, senti uma profunda gratidão. O mundo pode não ser perfeito, mas é um lugar onde ela pode crescer livre, sem o medo que um dia acompanhou-me. E isso, para mim, é a maior vitória de todas.
Era uma tarde quente de abril quando eu me sentei no velho sofá de couro da sala de estar. Nas minhas mãos, o álbum de fotos pesava mais do que o habitual, carregado de memórias que pareciam quase irreais agora. As páginas amareladas guardavam lembranças de um tempo que vivíamos sob a sombra de um regime opressor, antes do 25 de abril de 1974.
Lembro-me vividamente dos dias de minha juventude, onde o medo era um companheiro constante. A censura controlava o que líamos, víamos e ouvíamos. A PIDE, a polícia política, estava sempre à espreita, pronta para calar qualquer voz dissidente. Os meus pais, pequenos comerciantes, tinham medo de expressar qualquer opinião que pudesse ser interpretada como subversiva.
— Manuel, não fales disso na rua! — a minha mãe costumava sussurrar para o meu pai, enquanto ele reclamava em voz baixa sobre a falta de liberdade.
— Eu sei, Maria, eu sei — ele respondia, com um suspiro cansado, os olhos refletindo a resignação de anos de opressão.
Na escola, éramos obrigados a aprender sobre a grandiosidade do regime. Tudo era glorificado e questionar era um risco que ninguém estava disposto a correr. Eu, com os meus 17 anos, ansiava por a liberdade, mas temia as consequências. Os boatos de prisões, torturas e desaparecimentos eram constantes, e isso mantenhamo-nos em silêncio.
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