Na vila de Carregal do Sal, situada num cantinho do Planalto Beirão, entre as serras do Caramulo e da Estrela, numa modesta casinha, vivia D. Carochinha.

Durante a semana, trabalhava arduamente na fábrica de confeções, fazendo horas extraordinárias para conseguir pagar a renda da casa. Ao fim de semana, como boa dona de casa que era, limpava o pó, aspirava, passava a ferro e ainda fazia pastéis de massa tenra que vendia ao dono do melhor restaurante da vila.

Num sábado, logo pela manhã, D. Carochinha cantarolava enquanto limpava a cozinha.

- Ai destino, ai destino

Ai destino que é o meu

Ai destino, ai destino

Destino que Deus me deu

E lamentava-se da vida.

- Que vida a minha! Trabalho sem parar durante a semana e ao sábado este corpinho não tem descanso! Se ao menos arranjasse um marido rico, mas, pelos vistos, vou ficar para tia! Bem, mas deixemo-nos de lamúrias e toca a aspirar.

De repente, grande explosão de alegria.

       - Um euro! Um euro! Estou rica! Que hei de fazer com este dinheiro? O melhor é perguntar à minha vizinha do lado, à D. Idalina.

Toca à campainha da vizinha.

- Olá, D. Carochinha! Bons olhos a vejam! Então, de que é que precisa desta vez? Ovos ou açúcar?

 - Não é nada disso! Preciso do conselho de uma amiga. Veja só, ao aspirar a cozinha, encontrei uma moeda de um euro, novinha! Que hei de fazer?

 - Olhe, compre docinhos para dar os meninos no Dia das Bruxas!

- Hum! Não me parece boa ideia! Talvez a vizinha do rés do chão me possa ajudar.

Toca à campainha da D. Teresa

 - Querida vizinha, bem-vinda à minha modesta casinha! É servida de uma canjinha?

- Obrigada, vizinha. Fica para a próxima. Queria apenas um conselho amigo. Veja só, ao aspirar a cozinha, encontrei uma moeda de um euro, novinha! Que hei de fazer?

- Compre castanhas para fazermos um magustinho! E não se esqueça do vinhinho!

- Hum! Não me parece boa ideia! Talvez a vizinha que mora nas águas-furtadas me possa ajudar. É uma mulher sábia e sensata. Decerto, saberá aconselhar-me.

Toca à campainha.

 - Bom dia, D. Carochinha, o que a traz por cá tão cedo?

 - Bom dia, vizinha! Estou tão feliz, tão feliz!

- Desembuche, mulher!

- Veja só, logo pela manhã, a sorte entrou-me pela casa dentro. Ao aspirar a cozinha, encontrei uma moeda, novinha!

- De quanto, vizinha, de quanto?

- Estou rica, D. Elvira! Encontrei um euro! O que hei de fazer?

    - Faça como a Carochinha da velhinha história! Compre rendas e fitinhas,  enfeite-se com elas e procure marido numa das suas janelas.

- Obrigada, vizinha, pelo seu conselho sábio. Será que é desta vez que arranjo um maridinho bonito e com dinheirinho!?

D. Carochinha seguiu o conselho da sua vizinha. Vestiu o melhor vestido, enfeitou-se com as fitas e rendinhas e pôs-se à janela a ver quem queria casar com ela.

Quem quer casar com a Carochinha que é bonita e formosinha?

    Aproxima-se da casa um homenzarrão que lhe responde no seu vozeirão:

    - Quero eu, quero eu!

    - Que fazes tu?

     - Corro o país de lés a lés! Sou um homem muito viajado! Sou camionista, minha linda! Posso proporcionar-te aventuras sem igual nas estradas de Portugal!

    - Não me serves, não me serves! Sempre com o coração aos saltos, a pensar que a todo o momento posso ficar viúva! Há tantos acidentes na autoestrada! Quero uma vida alegre e sossegada!